Avançar para o conteúdo principal

Dicotomias na explicação e compreensão do comportamento humano.

Dicotomias na explicação e compreensão do comportamento humano. 

Dicotomias são ideias com dois pólos ou posições completamente distintas, com perspectivas e orientações extremas, divergências que nos permitem compreender o Ser Humano, o seu comportamento e os seus processos mentais. Apesar de se tratar de ideias fundamentalmente opostas, procura-se criar uma síntese que integre os dois polos, até porque, não é possível estabelecer uma divisão definitiva entre as várias abordagens ao comportamento humano e os processos mentais feitas ao longo dos tempos.


Inato: Os defensores do polo inato acreditam que o Ser Humano é definido pelas características biológicas e corporais, ou seja, que existe uma natureza em nós, definida pelos nossos genes, ou até pela nossa evolução filogenética, responsável por quem somos e por como nos comportamos. Assim, os progenitores seriam responsáveis pela constituição orgânica e psicológica dos indivíduos; 
  • Freud afirma que existem duas pulsões inatas, a pulsão da vida e a pulsão da morte. O equilíbrio entre estas duas pulsões contraditórias explicaria, segundo o autor a maioria dos nossos comportamentos. Porém, apesar de valorizar as pulsões inatas, Freud destaca as experiências vividas pelo indivíduo, especialmente no que toca à infância;
  • Outro autor que dá destaque à pulsão inata é Lorenz, para este as condutas do comportamento animal eram predeterminadas pelo sistema nervoso, assim, os animais estariam geneticamente programados para as suas atitudes de agressão ou comportamentos sexuais, sendo apenas uma pequena parte dos seus comportamentos determinados pela aprendizagem e pelas experiências;
  • Segundo Gesell, existe uma predisposição natural para o organismo se desenvolver, pelo que os comportamentos se sucedem numa determinada ordem inalterável, que obedece a um programa genético. Esta teoria considera irrelevante a influência do meio, já que, as diferenças entre os indivíduos se deveriam ao desenvolvimento e maturação predeterminada dos mesmos;
  • Com o evoluir das investigações sobre as funções do cérebro e o genoma humano, foi possível estabelecer uma relação entre os comportamentos e o funcionamento do cérebro. Assim, Changeux argumenta que o comportamento humano se pode explicar, tendo como base circuitos nervosos. Com efeito, o avanço das neurociências permitiu que muitos comportamentos humanos se explicassem através de mecanismos biológicos.
Adquirido: O polo adquirido é utilizado na explicação dos comportamentos humanos como fruto da educação e da influência do meio social e cultural em que o individuo se insere, favorecendo a importância dos estímulos, do adquirido e da socialização;
  • Segundo Watson, o comportamento humano é constituído pelo conjunto de respostas aprendidas a determinados estímulos, considerando irrelevante a hereditariedade. Skinner adopta também uma posição que favorece a aprendizagem, afirmando que o reforço da mesma assegura a repetição;
  • A teoria da aprendizagem social desenvolvida por Bandura, baseia-se na observação e posterior imitação, por parte do indivíduo, de vários comportamentos que observa a nível social – aprendizagem por modelagem;
  • Piaget procurou integrar os dois polos desta dicotomia, propondo uma teoria que valoriza os fatores quer os fatores maturativos, quer os fatores sociais. Para este autor o sujeito participa de forma ativa na construção dos seus pensamentos e conhecimentos;
Interior: O interior tem, ao longo da história da Psicologia, aparecido associado ao corpo e à sua biologia, ou seja, ao que se passa no interior do Ser Humano, as suas cognições, as suas emoções, ou os seus pensamentos, foram encarados como algo que se passa no nosso interior, geralmente na nossa cabeça

Exterior: No exterior é dada importância ao contexto á cultura em que nos inserimos ás relações sociais que mantemos, e no geral, aos estímulos que recebemos do exterior;

  • Acreditar que o nosso comportamento pode ser explicado tendo em conta apenas o que se passa no interior ou no exterior é negar o diálogo permanente que estes dois partilham;
  • O que pensamos está presente nas situações, contudo o contexto em que nos inserimos define a forma como nos comportamos e influência o nosso corpo através de estímulos.















Comentários

Mensagens populares deste blogue

A mente como um sistema de construção no mundo.

  A mente  é um  sistema de construção do mundo . “É com  a mente  que pensamos: pensar é ter uma  mente  que funciona e o pensamento exprime, precisamente, o funcionamento total da  mente .” A mente recolhe informações do ambiente e com elas cria representações. A representação não “copia” a informação – interpreta-a. A informação em si não possui qualquer significado, e para que a representação possa ser útil, para se compreender qualquer relação interior/exterior, entre mente/comportamento, a representação tem de ter significado para a mente. A mente constrói significados. Cria o sentido que atribuímos ao mundo e à nossa existência e produz cenários e imagens do que ainda não aconteceu (projeta, imagina).  Pensamento e ação - “É em relação que cada ser humano conhece o mundo, o que sente e age sobre ele. É um processo que acontece a cada momento e de forma integrada. Não conhecemos sem sentir e agir, não agimos sem conhecer e sentir e não ...

A CULTURA (INDIVIDUOS E GRUPOS)

  A CULTURA (INDIVIDUOS E GRUPOS) Grupo social  Na Psicologia, considera-se que os grupos sociais existem quando em determinado conjunto de pessoas há relações estáveis, em razão de objetivos e interesses comuns, assim como sentimentos de identidade grupal desenvolvidos através do contato contínuo. Estabilidade nas relações interpessoais e sentimentos partilhados numa mesma unidade social são as condições suficientes. Além disso, é importante observar que o grupo existe mesmo que não se esteja próximo dos componentes. Prova disso está no fato de que, ao sairmos da última aula da semana, embora fiquemos longe daqueles que compõem a nossa sala, a turma por si só não se desfaz, ainda existindo enquanto grupo. Da mesma forma, podemos pensar isso nas nossas famílias, o que comprova o facto de que o grupo é uma realidade, ou seja, mesmo que os indivíduos estejam longe, permanece o sentimento de presença dentro da consciência de cada um. Redes de comunicação   No  inter...

Conceções do Ser Humano e o objeto da psicologia

Conceções do Ser Humano e o objeto da psicologia O que é o Consciente ? O nível consciente nada mais é do que tudo aquilo do que estamos conscientes no momento , no agora. Ele corresponderia á menor parte da mente humana. Nele está tudo o que podemos perceber e acessar de forma intencional. Outro aspeto importante é que o consciente funciona de acordo com as regras sociais , respeitando tempo e espaço. Isso significa que é por meio dele que se dá a nossa relação com o mundo externo. O nível consciente seria nossa capacidade de perceber e controlar o nosso conteúdo mental. Apenas aquela parte do nosso conteúdo mental presente no nível consciente é que pode ser percebida e controlada por nós. Podendo assim resumir que , o Consciente responde pelo aspeto racional , por aquilo que estamos pensando , pela nossa mente atenta e por nossa relação com o undo exterior a nós. É uma pequena parte da nossa mente , embora acreditemos que seja maior. O que é o Pré-Consciente ? O pré-con...