A mente pode ser encarada como um sistema que integra os processos cognitivos, emocionais e conativos. Grande parte da nossa vida desenrola-se e organiza-se no contexto de instituições sociais que orientam o nosso comportamento. Para além disso, a maior parte das interações sociais são orientadas por fatores de origem cognitiva que organizam a forma como entendemos as situações. Os indivíduos não reagem às situações, mas sim às interpretações subjetivas das mesmas. Os processos cognitivos são complexos, porque implicam um conjunto de estruturas que recebem, filtram, organizam, modelam e retêm os dados provenientes do meio. Os processos cognitivos que existem são a perceção, a memória e a aprendizagem. O principal objetivo do trabalho é abordar com profundidade cada um deles.
A perceção é um processo cognitivo através do qual contactamos com o mundo através dos órgãos dos sentidos. Os estímulos recebidos pelos órgãos recetores são transformados em impulsos nervosos, que são conduzidos ao sistema nervoso central e processados pelo cérebro. A perceção não reproduz o mundo tal como ele é: este é representado no cérebro como imagem. A perceção é uma representação. A imagem que temos do mundo está condicionada por um conjunto de circunstâncias fisiológicas relativas aos órgãos recetores e às estruturas do sistema nervoso. Ao percecionar o mundo, o sujeito seleciona, de entre os múltiplos estímulos, apenas alguns, os que são significativos, os que lhe interessam. No cérebro, a informação recebida é interpretada, isto é, é- lhe atribuído um sentido, construído pelas experiências pessoais, interesses e expectativas do sujeito. Pode-se afirmar que a perceção que temos do mundo não é neutra nem objetiva. Para além de marcada pelas estruturas fisiológicas do sujeito, está também marcada pelas suas necessidades, interesses e valores. Por isso se diz que a perceção é subjetiva. A perceção social designa o processo como conhecemos os outros e como interpretamos o seu comportamento. A perceção social está muito relacionada com os grupos sociais, com o contexto social em que a pessoa está inserida. Os grupos sociais atribuem significados às situações, objetos e comportamentos que são partilhados por aqueles que os integram. No processo das interações sociais, a perceção social interpreta as situações e o comportamento dos outros. É a partir desta interpretação que nós orientamos o nosso comportamento. O contexto cultural marca o modo como se perceciona o mundo. Daí que um mesmo objeto, acontecimento ou situação seja percecionado de diferentes maneiras por sujeitos que pertencem a diferentes culturas.
A memória é um processo cognitivo que consiste na retenção e na evocação das informações, conhecimentos, acontecimentos, experiências. A memória é essencial para a nossa sobrevivência, sendo condição da adaptação ao meio e para a aquisição de novas aprendizagens. É a memória que assegura a nossa identidade pessoal. Reconhecem-se na memória três processos: codificação, armazenamento e recuperação da informação. Distinguem-se dois tipos de memória: memória a curto prazo e memória a longo prazo. A memória a curto prazo é um tipo de memória que mantém a informação durante um período limitado de tempo, podendo ser esquecida ou passar para a memória a longo prazo. Neste tipo de memória, distinguem-se duas componentes complementares: a memória imediata e a memória de trabalho. A memória imediata tem uma capacidade limitada a sete elementos e mantém-se apenas durante alguns segundos. Na memória de trabalho, a informação mantém-se durante o tempo em que nos é útil. É uma memória, que permite a manutenção temporária, na consciência, da informação necessária para realizar uma tarefa. A memória a longo prazo é alimentada pelos materiais da memória a curto prazo, que são codificados em símbolos. Tem uma capacidade ilimitada, podendo manter conteúdos até ao fim da vida. Na memória a longo prazo distinguem-se, geralmente, dois tipos: a memória declarativa e a memória não declarativa. A memória não declarativa corresponde às informações que se utilizam nos comportamentos motores dos quais não se tem consciência. A memória declarativa ou explícita é uma memória verbalizável, constituída pelas memórias semântica e episódica. A memória episódica corresponde aos acontecimentos pessoalmente vividos por uma pessoa num momento e num lugar determinados. A memória procedimental é uma memória de hábitos e de estratégias usadas de forma automática (andar de bicicleta, pentear-se, etc.). A memória semântica é a memória da linguagem (ortografia, sentido das palavras, de factos culturais, geográficos, históricos e de certos dados pessoais). A memória não é uma reprodução fiel do passado, porque as recordações estão marcadas pela experiência, pelas emoções, pelos afetos, pelas representações. A memória reconstrói os dados que recebe ao longo do tempo, dando relevo a uns, distorcendo ou omitindo outros. Há como que uma idealização do passado. Nós não temos consciência deste processo. A memória é condição de identidade pessoal e também da identidade coletiva: da família, dos grupos sociais, das instituições. Também a este nível se faz uma reconstrução do passado. O esquecimento ocorre quando não se consegue recuperar a informação. Pode dizer-se que é condição da própria memória: é porque esquecemos que continuamos a reter e a evocar dados. Há muitas condições que explicam o esquecimento: relacionadas com o passar do tempo, por interferência de aprendizagens e o esquecimento motivado.
A aprendizagem consiste numa modificação relativamente estável do comportamento ou do conhecimento, que resulta do exercício, experiência, treino ou estudo. A aprendizagem assume várias formas e expressões, distinguindo-se, assim, vários tipos de comportamento aprendido. Geralmente, distinguem-se aprendizagens não simbólicas (aprendizagem não associativa e associativa) de aprendizagens simbólicas. A aprendizagem por habituação (aprendemos a não reagir a determinado estímulo) é uma aprendizagem não associativa, porque o indivíduo aprende as características de um só tipo de estímulos. A aprendizagem associativa implica a associação de estímulos, ou a associação de estímulos e respostas. O condicionamento clássico e o operante são tipos de aprendizagem associativa. O condicionamento clássico, pavloviano ou respondente é uma aprendizagem que não envolve a vontade do sujeito; o sujeito é passivo. Dá-se pela associação de estímulos. O condicionamento operante é uma aprendizagem que envolve a vontade do sujeito; o sujeito é ativo. O comportamento é aprendido através do reforço, que pode ser positivo ou negativo. Grande parte dos nossos comportamentos é aprendida no processo de interação social. Bandura desenvolveu investigações experimentais que o levaram a descrever o modo como se processa a aprendizagem social: por observação e por imitação. A aprendizagem simbólica recorre a símbolos e a representações. Pode ser uma aprendizagem de conhecimentos ou uma aquisição de procedimentos e competências.
Concluindo, é importante salientar que os processos cognitivos são um conjunto de mecanismos pelos quais um organismo adquire informação, a trata, a conserva, a explora; designa também o produto mental destes mecanismos, quer seja encarado de um modo generalizado quer a propósito de um caso particular.
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