Avançar para o conteúdo principal

O cérebro

 "O cérebro humano não é o maior órgão do corpo. Pesa apenas cerca de um quilo e trezentos gramas, menos do que a pele que cobre o corpo. No entanto, esta estrutura maravilhosa é a fonte de todo o comportamento humano, controlando ao mesmo tempo uma miríade de funções incrivelmente complexas. Dentro de um espaço de tempo demasiado reduzido para ser mensurável por qualquer ser humano, o cérebro recebe informação e transmite-a aos locais apropriados para o seu processamento. Permite à pessoa agir com base nessa informação, controlando a capacidade motora dos músculos. O cérebro gera emoções e permite que se esteja atento a elas. É a fonte de cognição, da memória, dos pensamentos e daquilo que chamamos inteligência. A capacidade para falar e entender a fala dos outros provém do cérebro. As pessoas não têm de se preocupar em controlar o ritmo cardíaco, a transpiração, a respiração, a secreção hormonal ou o sistema imunitário; o cérebro faz isso inconscientemente e automaticamente pela pessoa."

Wolfe, Patricia, Compreender o funcionamento do cérebro, Porto: Porto Editora, 2004, p.9



Elementos estruturais e funcionais básicos do sistema nervoso

O sistema nervoso é responsável pelos comportamentos, desde os mais simples (os reflexos) aos mais complexos, como o pensamento, a memória, a imaginação e a linguagem.

Grande parte dos processos iniciam-se nos órgãos dos sentidos, que captam as informações do meio (mecanismos de receção). Estas informações são interpretadas e tratadas pelo sistema nervoso, que coordena, processa e determina as respostas aos estímulos que receberam (mecanismos de coordenação). São, sobretudo, os músculos e as glândulas que efetuam as respostas (mecanismos de reação).

Assim:

·         Os mecanismos de receção ou recetores são os órgãos que recebem os estímulos do meio externo ou interno. São, entre outros, os órgãos dos sentidos (visão, audição, tato, etc.).

·         Os mecanismos de coordenação ou de processamento são o sistema nervoso central e o sistema nervoso periférico. São estes dois sistemas que coordenam as informações recebidas pelos recetores e determinam as respostas concretizadas pelos efetores.

·          Os mecanismos de reação ou efetores são, sobretudo, os músculos e as glândulas, que são os responsáveis por efetuar as respostas, isto é, concretizam a reação aos estímulos. 

 

Neurónios

Como todos os outros tecidos, o sistema nervoso é constituído por células. No caso particular do sistema nervoso, podemos encontrar dois tipos principais de células: os neurónios e as células gliais. Os neurónios são células especializadas, responsáveis por grande parte das funções do sistema nervoso. As células gliais facultam os nutrientes, como o oxigénio e a glicose, que alimentam, isolam e protegem os neurónios.

Nos neurónios podemos distinguir três componentes distintas: o corpo celular, as dendrites, e o axónio.

1.   Corpo celular: O corpo celular, ou soma, contém o núcleo, que é o armazém de energia da célula.

2. Dendrites: As dendrites são extensões do corpo celular, assemelhando-se aos ramos de uma árvore. Medem, no máximo, alguns décimos de milímetro. Estas ramificações múltiplas recebem e transmitem informação de e para outras células com as quais o neurónio estabelece contactos.

3.   Axónio: O axónio é o prolongamento mais extenso do neurónio e transmite as mensagens de um neurónio a outro (ao corpo celular ou às dendrites) ou entre um neurónio e uma célula efetora muscular ou glandular. O axónio (ou cilindro-eixo) prolonga-se a partir do corpo celular e termina num conjunto de ramificações semelhantes a uma raiz: as telodendrites ou terminais axónicas.

Há axónios que estão envolvidos por camadas de mielina, que é uma substância branca de matéria gorda; outros são só constituídos por substância cinzenta. Assim se explica o cinzento da camada exterior do cérebro (constituída por neurónios cujos axónios não estão envolvidos por mielina) e o branco do seu interior (os axónios mielinizados). O axónio, e certas dendrites de um neurónio, constituem uma fibra nervosa. As fibras nervosas podem agrupar-se em feixes. Ao conjunto de fibras nervosas envolvidas por uma membrana dá-se o nome de nervos.

As três estruturas do neurónio estão interligadas, como se compreenderá melhor quando analisarmos o processo de comunicação nervosa que se faz através dos neurónios organizados em rede. A interatividade é o princípio essencial subjacente à forma e à anatomia celular dos neurónios.

 

Geralmente distingue-se três tipos de neurónios, quanto às suas funções:

·    Neurónios aferentes ou sensoriais -são afetados pelas alterações ambientais e ativados pelos vários estímulos com origem no interior ou exterior do organismo. Recolhem e conduzem as mensagens da periferia para os centros nervosos: espinal medula e encéfalo.

·    Neurónios eferentes ou motores – transmitem as mensagens dos centros nervosos para os órgãos efetores, isto é, os órgãos responsáveis pelas respostas, que são os músculos e as glândulas; a sua função é, por exemplo, que um músculo se contraia ou que uma glândula modifique a sua atividade.

·     Neurónios de conexão ou interneurónios – interpretam as informações e elaboram as respostas. A atividade destes neurónios torna possível, entre outras, as nossas funções superiores, como a capacidade intelectual, as emoções e as capacidades comportamentais.

 Tanto nos comportamentos mais simples, como afastar a mão quando nos queixamos, como nos mais complexos, como responder a um teste ou compor uma música, estão envolvidos os três tipos de neurónios. 


Sinapse e comunicação nervosa

Não existe uma relação física entre os neurónios, ocorrendo na transmissão da informação um processo muito peculiar. É através da sinapse que as mensagens são transmitidas. A sinapse é uma junção funcional em que ocorre a transmissão de informação entre dois neurónios ou entre um neurónio e uma outra célula (recetor sensorial, célula muscular, etc.).

A função principal do neurónio é a transmissão de impulsos nervosos. Quando um neurónio é estimulado, as suas características elétricas ou químicas alteram-se, produzindo uma corrente. Esta corrente, constituída pelos impulsos nervosos, que circulam nos nervos, dessigam-se por influxo nervoso.

Pode-se falar de mensagem, porque o influxo nervoso é uma instrução dada à célula que o recebe para fazer qualquer coisa. A mensagem, o influxo, é uma “corrente elétrica” semelhante à corrente que circula num fio de telefone.

 

 



Comentários

Mensagens populares deste blogue

A mente como um sistema de construção no mundo.

  A mente  é um  sistema de construção do mundo . “É com  a mente  que pensamos: pensar é ter uma  mente  que funciona e o pensamento exprime, precisamente, o funcionamento total da  mente .” A mente recolhe informações do ambiente e com elas cria representações. A representação não “copia” a informação – interpreta-a. A informação em si não possui qualquer significado, e para que a representação possa ser útil, para se compreender qualquer relação interior/exterior, entre mente/comportamento, a representação tem de ter significado para a mente. A mente constrói significados. Cria o sentido que atribuímos ao mundo e à nossa existência e produz cenários e imagens do que ainda não aconteceu (projeta, imagina).  Pensamento e ação - “É em relação que cada ser humano conhece o mundo, o que sente e age sobre ele. É um processo que acontece a cada momento e de forma integrada. Não conhecemos sem sentir e agir, não agimos sem conhecer e sentir e não ...

O Construtivismo do Piaget

O Construtivismo do Piaget Jean Piaget Considerado um dos mais importantes pensadores do século XX, Jean Piaget nasceu em 1896, em Neuchâtel, na Suíça, tendo mostrado, desde muito cedo um grande interesse pela observação e análise da natureza, que se reflete no estudo que desenvolveu sobre os moluscos dos lagos suíços.  Frequentou vários cursos: Química, Geologia, Biologia e Matemática. Aos 21 anos, faz um doutoramento em Ciências. Estuda, ao mesmo tempo, Filosofia, Lógica e Epistemologia.  -------------------------------------------------------------------------- Na década de 20 do século XX, a Psicologia está dominada por duas correntes, que se opõem:  o gestaltismo, que defende que o cérebro contém estruturas inatas que determinam o modo como o sujeito organiza o mundo e as aprendizagens; o behaviorismo, que considera o sujeito como determinado pelos condicionalismos do meio Para os primeiros, os conhecimentos são inatos; para os outros, são adquiridos por estímulos do...

Dicotomias na explicação e compreensão do comportamento humano.

Dicotomias na explicação e compreensão do comportamento humano.  Dicotomias são ideias com dois pólos ou posições completamente distintas, com perspectivas e orientações extremas, divergências que nos permitem compreender o Ser Humano, o seu comportamento e os seus processos mentais.  Apesar de se tratar de ideias fundamentalmente opostas, procura-se criar uma síntese que integre os dois polos, até porque, não é possível estabelecer uma divisão definitiva entre as várias abordagens ao comportamento humano e os processos mentais feitas ao longo dos tempos. Inato:   Os defensores do polo  inato acreditam que o Ser Humano é definido pelas características biológicas e corporais, ou seja, que existe uma natureza em nós, definida pelos nossos genes, ou até pela nossa evolução filogenética, responsável por quem somos e por como nos comportamos. Assim, os progenitores seriam responsáveis pela constituição orgânica e psicológica dos indivíduos;  Freud afirma que existem ...