O Construtivismo do Piaget
Frequentou vários cursos: Química, Geologia, Biologia e Matemática. Aos 21 anos, faz um doutoramento em Ciências. Estuda, ao mesmo tempo, Filosofia, Lógica e Epistemologia.
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Na década de 20 do século XX, a Psicologia está dominada por duas correntes, que se opõem:
- o gestaltismo, que defende que o cérebro contém estruturas inatas que determinam o modo como o sujeito organiza o mundo e as aprendizagens;
- o behaviorismo, que considera o sujeito como determinado pelos condicionalismos do meio
Piaget vai afastar-se das posições extremadas das duas correntes, propondo um novo modelo explicativo: o sujeito constrói os seus conhecimentos pelas suas próprias ações. A inteligência é, assim, produto de um processo de adaptação, no qual interagem as estruturas mentais e a influência do mundo exterior: as estruturas da inteligência são produto de uma construção contínua do sujeito em interação com o meio, isto é, o conhecimento é construído através da interação entre o sujeito
e os objetos/situações, ele tem um papel ativo na construção do seu conhecimento
e no seu desenvolvimento.
Não basta experienciar, é necessário racionalizar os dados dessa
ação.
Sujeito Ativo
Ele defende uma posição interacionista: o sujeito é um elemento ativo no processo de conhecer, isto é, é um elemento decisivo nas mudanças que ocorrem nas estruturas do conhecimento, da inteligência. Assim, o conhecimento depende da interação entre as estruturas inatas do sujeito e os dados provenientes do meio, isto é, o conhecimento não radica apenas na experiência (empirismo)
nem no pensamento (racionalismo), mas na sua interação.
O conhecimento é construído através da interação entre o sujeito
e os objetos/situações, ele tem um papel ativo na construção do seu conhecimento
e no seu desenvolvimento.
Não basta experienciar, é necessário racionalizar os dados dessa
ação.
O construtivismo é uma teoria sobre a origem do conhecimento que considera que a criança passa por estágios para adquirir e construir o conhecimento. Tem como objeto de estudo da alfabetização a língua escrita.
Acomodação e Assimilação
A acomodação e a assimilação são os conceitos básicos dos fundamentos gerais da conceção piagetiana do desenvolvimento.
O conhecimento é um processo e não um acumular de informação, é uma reorganização progressiva e uma construção individual. Uma criança com as suas capacidades precoces começa a conhecer o seu mundo pelos sentidos.
A assimilação e a acomodação são os instrumentos do conhecimento, ou seja, as estruturas da inteligência que permitem a organização progressiva do conhecimento, diretamente ligados ao processo de adaptação.
No processo de assimilação, elementos do meio são incorporados à estrutura cognitiva do sujeito. Na acomodação, há uma modificação nas estruturas do sujeito para que se adapte às modificações do meio.
A seguinte imagem demonstra a relação entre assimilação, acomodação e adaptação:
Segundo Piaget , haveria aprendizagem somente quando o esquema de assimilação sofre acomodação. Nesse sentido, o sujeito vai construindo teorias acerca do funcionamento do meio físico e social. O desenvolvimento cognitivo constitui um processo de sucessivas mudanças nas estruturas cognitivas, de construção e reconstrução contínuas de esquemas prévios, os quais, aos poucos, transformam bases inatas e reflexas em representações mentais, conduzindo ao equilíbrio.
O equilíbrio entre os dois processos possibilita uma adaptação cada vez mais adequada do sujeito ao mundo e, consequentemente, sua organização mental. Todavia, quando este equilíbrio é rompido por experiências ainda não assimiladas, a mente se reorganiza para construir novos esquemas de assimilação e novamente atingir o equilíbrio.
Estágios de Desenvolvimento
Este processo interativo desenvolve-se por etapas, que o mesmo designa por estádios de desenvolvimento. Esta conceção construtivista e interacionista de Piaget supera a dicotomia inato/adquirido que marca a história do pensamento.
Segundo Piaget, o desenvolvimento intelectual processa-se em quatro estádios sucessivos, cuja ordem de sucessão é constante. Cada estádio decorre do precedente por um processo integrativo, resultante de reestruturações sucessivas. A idade em que cada criança atinge cada estádio varia, embora Piaget tivesse apresentado idades médias para se passar de um estádio a outro. Estes estádios correspondiam a diferentes formas de ver, compreender e agir sobre o mundo, que culminavam no pensamento adulto. A seguinte imagem demonstra os quatro estádios:
Fase sensório-motor: do nascimento até cerca dos 2 anos
Durante este estádio, as crianças aprendem sobre o mundo por meio dos seus sentidos e da manipulação de objetos. A principal conquista durante este estádio é a permanência do objeto, ou seja, saber que um objeto ainda existe, mesmo que nós não vejamos.
Isso requer a capacidade de formar uma representação mental dos objetos.
Fase pré-operatório: dos 2 aos 6/7 anos
Durante esse estádio, as crianças desenvolvem a imaginação e a memória. Elas também são capazes de entender a ideia de passado e futuro, e interpretar as coisas simbolicamente.
O pensamento nessa fase ainda é egocêntrico, detse modo, a criança tem dificuldade em ver o ponto de vista dos outros.
Estádio das operações concretas: dos 6/7 aos 11/12 anos
Durante esse estádio, as crianças tornam-se mais conscientes do sentimento dos outros e dos eventos externos. Elas vão tornando-se menos egocêntricas, começando a entender que nem todos compartilham seus pensamentos, crenças ou sentimentos.
Para Piaget, este estágio é um grande ponto no desenvolvimento cognitivo da criança, pois marca o início do pensamento lógico ou operacional. Isso significa que a criança pode resolver as coisas internamente na sua cabeça, em vez de apenas fisicamente.
Estádio das operações formais: dos 11/12 ao 16 anos
Começa aproximadamente aos onze anos e dura até a idade adulta. Durante esse estádio, as crianças são capazes de usar a lógica para resolver problemas, planejar o seu futuro e ver o mundo ao seu redor.
Piaget, como criador da teoria Construtivista, considera quatro fatores como essenciais para o desenvolvimento cognitivo da criança:
Biológico: relacionado ao crescimento orgânico e à maturidade do sistema nervoso;
De experiências e de exercícios: é obtido na ação da criança sobre os objetos;
De interações sociais: se desenvolve por meio da linguagem e da educação;
De equilibração das ações: relacionado à adaptação ao meio e/ou às situações.
O construtivismo de Piaget trata o conhecimento como uma construção, a partir da ação do sujeito, numa interação com o objeto do conhecimento.
Para explicar como todos podem aprender e o desenvolvimento da inteligência, Jean Piaget reuniu saberes da Biologia, da Psicologia e da Filosofia no conceito do sujeito epistêmico que conhecimento é construído em ambientes naturais de interação social, estruturados culturalmente.
Piaget acrescenta mudanças fundamentais à posição de Kant, em relação ao conhecimento, na medida em que em seu sistema não existe nenhuma categoria de entendimento “a priori”. As noções de tempo, espaço e a logicidade de raciocínio são construídas pelo indivíduo através da ação em trocas dialéticas com o meio.
Conclusão
Mesmo que algumas investigações recentes ponham reservas a alguns aspetos da teoria dos estádios proposta por Piaget, a sua contribuição para a compreensão do desenvolvimento intelectual do ser humano é incontornável. Enquanto Freud descreveu as etapas afetivas do desenvolvimento, Piaget enunciou as etapas cognitivas, formulando, assim, a primeira grande teoria do desenvolvimento da inteligência. As suas conceções revolucionaram literalmente as teorias sobre o desenvolvimento do pensamento humano, sendo o precursor do cognitivismo. Os efeitos das suas conceções ultrapassaram o âmbito da Psicologia, influenciando decisivamente a pedagogia e a educação.
É também o fundador de uma nova área do saber, a Epistemologia Genética, cujo objetivo passa pela compreensão da natureza e da origem do conhecimento. A sua formação - ele foi biólogo, filósofo, epistemólogo e psicólogo - abriu-lhe caminho para outras áreas como a Sociologia, a Cibernética, a Lógica, que ele articulou numa visão interdisciplinar do ser humano e do mundo.
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