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O Construtivismo do Piaget

O Construtivismo do Piaget


Jean Piaget

Considerado um dos mais importantes pensadores do século XX, Jean Piaget nasceu em 1896, em Neuchâtel, na Suíça, tendo mostrado, desde muito cedo um grande interesse pela observação e análise da natureza, que se reflete no estudo que desenvolveu sobre os moluscos dos lagos suíços. 
Frequentou vários cursos: Química, Geologia, Biologia e Matemática. Aos 21 anos, faz um doutoramento em Ciências. Estuda, ao mesmo tempo, Filosofia, Lógica e Epistemologia. 

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Na década de 20 do século XX, a Psicologia está dominada por duas correntes, que se opõem: 
  • o gestaltismo, que defende que o cérebro contém estruturas inatas que determinam o modo como o sujeito organiza o mundo e as aprendizagens;
  • o behaviorismo, que considera o sujeito como determinado pelos condicionalismos do meio
Para os primeiros, os conhecimentos são inatos; para os outros, são adquiridos por estímulos do ambiente.
Piaget vai afastar-se das posições extremadas das duas correntes, propondo um novo modelo explicativo: o sujeito constrói os seus conhecimentos pelas suas próprias ações. A inteligência é, assim, produto de um processo de adaptação, no qual interagem as estruturas mentais e a influência do mundo exterior: as estruturas da inteligência são produto de uma construção contínua do sujeito em interação com o meio, isto é, o conhecimento é construído através da interação entre o sujeito e os objetos/situações, ele tem um papel ativo na construção do seu conhecimento e no seu desenvolvimento. Não basta experienciar, é necessário racionalizar os dados dessa ação.

Sujeito Ativo

Ele defende uma posição interacionista: o sujeito é um elemento ativo no processo de conhecer, isto é, é um elemento decisivo nas mudanças que ocorrem nas estruturas do conhecimento, da inteligência. Assim, o conhecimento depende da interação entre as estruturas inatas do sujeito e os dados provenientes do meio, isto é, o conhecimento não radica apenas na experiência (empirismo) nem no pensamento (racionalismo), mas na sua interação. O conhecimento é construído através da interação entre o sujeito e os objetos/situações, ele tem um papel ativo na construção do seu conhecimento e no seu desenvolvimento. Não basta experienciar, é necessário racionalizar os dados dessa ação.
 O construtivismo é uma teoria sobre a origem do conhecimento que considera que a criança passa por estágios para adquirir e construir o conhecimento. Tem como objeto de estudo da alfabetização a língua escrita.

Acomodação e Assimilação

A acomodação e a assimilação são os conceitos básicos dos fundamentos gerais da conceção piagetiana do desenvolvimento.

O conhecimento é um processo e não um acumular de informação, é uma reorganização progressiva e uma construção individual. Uma criança com as suas capacidades precoces começa a conhecer o seu mundo pelos sentidos.
A assimilação e a acomodação são os instrumentos do conhecimento, ou seja, as estruturas da inteligência que permitem a organização progressiva do conhecimento, diretamente ligados ao processo de adaptação. 

No processo de assimilação, elementos do meio são incorporados à estrutura cognitiva do sujeito. Na acomodação, há uma modificação nas estruturas do sujeito para que se adapte às modificações do meio.

A seguinte imagem demonstra a relação entre assimilação, acomodação e adaptação:


 Segundo Piaget , haveria aprendizagem somente quando o esquema de assimilação sofre acomodação. Nesse sentido, o sujeito vai construindo teorias acerca do funcionamento do meio físico e social. O desenvolvimento cognitivo constitui um processo de sucessivas mudanças nas estruturas cognitivas, de construção e reconstrução contínuas de esquemas prévios, os quais, aos poucos, transformam bases inatas e reflexas em representações mentais, conduzindo ao equilíbrio.
 O equilíbrio entre os dois processos possibilita uma adaptação cada vez mais adequada do sujeito ao mundo e, consequentemente, sua organização mental. Todavia, quando este equilíbrio é rompido por experiências ainda não assimiladas, a mente se reorganiza para construir novos esquemas de assimilação e novamente atingir o equilíbrio. 

Estágios de Desenvolvimento 

Este processo interativo desenvolve-se por etapas, que o mesmo designa por estádios de desenvolvimento. Esta conceção construtivista e interacionista de Piaget supera a dicotomia inato/adquirido que marca a história do pensamento. 
Segundo Piaget, o desenvolvimento intelectual processa-se em quatro estádios sucessivos, cuja ordem de sucessão é constante. Cada estádio decorre do precedente por um processo integrativo, resultante de reestruturações sucessivas. A idade em que cada criança atinge cada estádio varia, embora Piaget tivesse apresentado idades médias para se passar de um estádio a outro. Estes estádios correspondiam a diferentes formas de ver, compreender e agir sobre o mundo, que culminavam no pensamento adulto. A seguinte imagem demonstra os quatro estádios:


Fase sensório-motor: do nascimento até cerca dos 2 anos
Durante este estádio, as crianças aprendem sobre o mundo por meio dos seus sentidos e da manipulação de objetos. A principal conquista durante este estádio é a permanência do objeto, ou seja, saber que um objeto ainda existe, mesmo que nós não vejamos.
Isso requer a capacidade de formar uma representação mental dos objetos.

Fase pré-operatório: dos 2 aos 6/7 anos
Durante esse estádio, as crianças desenvolvem a imaginação e a memória. Elas também são capazes de entender a ideia de passado e futuro, e interpretar as coisas simbolicamente.
O pensamento nessa fase ainda é egocêntrico, detse modo, a criança tem dificuldade em ver o ponto de vista dos outros.

Estádio das operações concretas: dos 6/7 aos 11/12 anos
Durante esse estádio, as crianças tornam-se mais conscientes do sentimento dos outros e dos eventos externos. Elas vão tornando-se menos egocêntricas, começando a entender que nem todos compartilham seus pensamentos, crenças ou sentimentos.
Para Piaget, este estágio é um grande ponto no desenvolvimento cognitivo da criança, pois marca o início do pensamento lógico ou operacional. Isso significa que a criança pode resolver as coisas internamente na sua cabeça, em vez de apenas fisicamente.

Estádio das operações formais: dos 11/12 ao 16 anos
Começa aproximadamente aos onze anos e dura até a idade adulta. Durante esse estádio, as crianças são capazes de usar a lógica para resolver problemas, planejar o seu futuro e ver o mundo ao seu redor.




Piaget, como criador da teoria Construtivista, considera quatro fatores como essenciais para o desenvolvimento cognitivo da criança:
Biológico: relacionado ao crescimento orgânico e à maturidade do sistema nervoso;
De experiências e de exercícios: é obtido na ação da criança sobre os objetos;
De interações sociais: se desenvolve por meio da linguagem e da educação;
De equilibração das ações: relacionado à adaptação ao meio e/ou às situações.

O construtivismo de Piaget trata o conhecimento como uma construção, a partir da ação do sujeito, numa interação com o objeto do conhecimento.

Para explicar como todos podem aprender e o desenvolvimento da inteligência, Jean Piaget reuniu saberes da Biologia, da Psicologia e da Filosofia no conceito do sujeito epistêmico que conhecimento é construído em ambientes naturais de interação social, estruturados culturalmente. 
Piaget acrescenta mudanças fundamentais à posição de Kant, em relação ao conhecimento, na medida em que em seu sistema não existe nenhuma categoria de entendimento “a priori”. As noções de tempo, espaço e a logicidade de raciocínio são construídas pelo indivíduo através da ação em trocas dialéticas com o meio.

Conclusão

 Mesmo que algumas investigações recentes ponham reservas a alguns aspetos da teoria dos estádios proposta por Piaget, a sua contribuição para a compreensão do desenvolvimento intelectual do ser humano é incontornável. Enquanto Freud descreveu as etapas afetivas do desenvolvimento, Piaget enunciou as etapas cognitivas, formulando, assim, a primeira grande teoria do desenvolvimento da inteligência. As suas conceções revolucionaram literalmente as teorias sobre o desenvolvimento do pensamento humano, sendo o precursor do cognitivismo. Os efeitos das suas conceções ultrapassaram o âmbito da Psicologia, influenciando decisivamente a pedagogia e a educação.

 É também o fundador de uma nova área do saber, a Epistemologia Genética, cujo objetivo passa pela compreensão da natureza e da origem do conhecimento. A sua formação - ele foi biólogo, filósofo, epistemólogo e psicólogo - abriu-lhe caminho para outras áreas como a Sociologia, a Cibernética, a Lógica, que ele articulou numa visão interdisciplinar do ser humano e do mundo.

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