Um estudo recente financiado pelo European Research Council mostra que crianças que nascem e crescem num ambiente de pobreza são sete vezes mais propensas a automutilar-se e a envolver-se em crimes violentos durante a sua juventude.
Esta pesquisa foi conduzida pela Universidade de Manchester e foi financiada pelo Conselho Europeu de Pesquisa. Usando registos nacionais dinamarqueses de mais de um milhão de jovens, o estudo analisou 21.267 pacientes que deram entrada no hospital com episódios de automutilação e 23.724 pessoas que foram condenadas por crimes violentos com idades entre os 15 e os 33 anos.
A pesquisa mostrou que as crianças que permaneceram entre os 20% das famílias mais ricas, durante os seus primeiros 15 anos de vida, eram as menos propensas a automutilar-se ou a cometer crimes violentos entre os 15 e os 33 anos de idade. Enquanto a quinta parte menos abastada da sociedade tinha sete vezes mais a possibilidade de se automutilar e 13 vezes mais oportunidade de cometer crimes violentos durante a juventude.
Perante tais resultados, o Professor Webb, um dos autores deste estudo, afirmou: “Exposure to poverty can have an adverse impact on early child development as well as parental conflict and separation, harming children’s psychosocial development and well-being.” Continunado ele acrescentou: “This study casts new light on our understanding of the deep-rooted causes of self-harm and violent behaviour. Though to some extent, we all make choices, what children go through does have a powerful effect on these harmful behaviours.”
Tradução: “A exposição à pobreza pode ter um impacto adverso no desenvolvimento da primeira infância, bem como o conflito e separação dos pais, o que prejudica o desenvolvimento psicossocial e o bem-estar das crianças.” (…) “Este estudo lança uma nova luz sobre a nossa compreensão das causas profundamente enraizadas da automutilação e do comportamento violento. Embora, até certo ponto, todos nós façamos escolhas, o que as crianças passam tem um efeito poderoso sobre esses comportamentos prejudiciais”.
Na minha opinião, estudos como este realmente solidificam a tese de que os seres humanos não nascem naturalmente violentos, mas podem tornar-se violentos por a influência de alguns fatores tais como a falta de amor paterno ou a exposição à pobreza durante a sua infância.
Tal é comprovado por casos como o de Ted Bundy, um homem americano que violou e matou mais de 30 mulheres, e que foi marcado por uma infância tumultuosa devido ao facto de ter sido criado pelos avós, uma vez que, em grande parte da sua vida, as suas figuras parentais estavam ausentes, e ao facto de ter sido testemunha das explosões de raiva do seu avô que, muitas vezes, agredia a sua avó.
Contudo, esta infância traumática de Ted não pode ser encarada como uma desculpa pelos seus atos hediondos e imperdoáveis. Deve, sim, ser encarada como uma espécie de lição que permita que assuntos como os maus tratos infantis sejam discutidos com mais seriedade e que medidas mais eficazes possam ser postas em prática, para que casos tão extremos como este sejam menos comuns e assim possamos viver numa sociedade mais segura, menos violenta e, sobretudo, mais justa.
Link do estudo: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS2468-2667(18)30164-6/fulltext
João Gonçalves / nº16 / 12ºD
Comentários
Enviar um comentário