Programa Genético
Todo os seres vivos estão geneticamente programados, isto é, todos os animais
cumprem um programa genético que os leva no seu desenvolvimento a exibirem
certas características e certos comportamentos. Todo o ser vivo é também um sistema
aberto, no sentido em que as capacidades e características que recebeu
hereditariamente só se manifestam se o meio for apropriado. Em comparação com os
outros animais, o carácter aberto do sistema humano faz-se sentir de forma
significativa. O etologista Kornad Lorenz introduziu os conceitos de programa aberto e
programa fechado, para diferenciar as espécies em que a capacidade de aprender é
muito limitada, daquelas cujo reportório comportamental é suscetível de se ampliar
grandemente por meio das aprendizagens.
O programa genético fechado prevê de forma estruturada processos evolutivos e
comportamentos caraterísticos de determinada espécies (por exemplo o lagarto).
É o processo mais comum nos animais e nas plantas. Os seres atingem um ponto de
desenvolvimento em que estagnam e não têm capacidade de se adaptarem ou
modificarem o seu comportamento.
Por outro lado, o programa genético aberto implica apenas uma programação parcial,
dando liberdade ao ser para evoluir de forma distinta, para ter comportamentos
imprevisíveis e para se adaptar em casos de alterações climáticas, por exemplo.
O ser humano tem um programa genético aberto. O seu organismo é menos
preparado geneticamente (órgãos, sentidos, constituição esquelética e muscular) para
encarar desafios a que os animais respondem com total eficácia, no entanto o Homem
tem capacidade para enfrentar situações imprevistas.
Prematuridade e neotenia
Muitos autores pensam que as assimetrias de programa entre o ser humano e os
outros animais têm a sua raiz em divergências constitutivas, entre as quais se destaca:
o inacabamento humano. O seu organismo leva muito mais tempo a atingir o pleno
desenvolvimento do que o das outras espécies: logo após o nascimento, o pato nada
atrás da mãe. São os programas genéticos que lhe permitem comportamentos
orientados eficazmente para a sobrevivência e a adaptação ao meio.
Diferentemente, o ser humano, quando nasce, apresenta uma incapacidade para
reagir de forma tão eficaz ao meio. Fernando Savater afirma: “Tiraram-nos do forno
evolutivo muito cedo, estamos a meia cozedura.”
No plano físico, o ser humano apresenta o inacabamento biológico que se designa por
neotenia: atraso do desenvolvimento que faz com que o individuo se desenvolva mais
devagar, dependendo, durante muito mais tempo, dos adultos, porque é preciso
ensinar-lhe a comer, a andar, a falar, etc. o processo de desenvolvimento do cérebro
está ligado ao retardamento ontogénico, isto é, ao prolongamento do período da
infância e da adolescência.
Um reflexo da neotenia é o facto de o adulto possuir ainda traços da infância e da
adolescência. As características juvenis, plásticas, mantêm-se, portanto, nos indivíduos
adultos que apresentariam traços da neotenia: caixa craniana em forma de ovo, fácies
juvenil, cavidade occipital situada na base do crânio.
Em conclusão: o inacabamento biológico do ser humano e a sua prematuridade
implicam um prolongamento da infância e da adolescência, condição necessária para o
seu processo de adaptação e desenvolvimento. Esta aparente falta vai constituir uma
vantagem ao permitir a possibilidade de uma maior capacidade para aprender no
contexto do seu ambiente, da sua cultura.
Vantagens do inacabamento humano
O conceito de neotenia afirma que o homem é “um ser aberto ao mundo”: o seu
inacabamento biológico, a sua prematuridade, explicaria a ausência de uma
programação biológica tão rígida como a que existe noutros animais. A aprendizagem
irá cumprir as tarefas que nos animais são destinadas pela hereditariedade: o ser
humano tem de aprender o que a hereditariedade propicia a outras espécies.
A sua natureza biológica torna mais flexível o processo de adaptação ao meio. Cria a
necessidade de o Homem criar a sua própria adaptação, a cultura, que transmite de
geração em geração. O estatuto humano só é atingido através da aprendizagem. A
prematuridade do ser humano é, portanto, uma vantagem.
Filogénese e Ontogénese
Quando falamos em desenvolvimento humano podemos referir-nos ao
desenvolvimento ou ao desenvolvimento do indivíduo. No primeiro caso reportámo-
nos à filogénese, no segundo à ontogénese. Estes dois conceitos estão então
relacionados.
A filogénese refere-se à evolução de uma espécie, desde os ancestrais mais
elementares (é a história evolutiva de uma espécie).
A ontogénese retrata o desenvolvimento do indivíduo desde que este nasceu até que
atinge a idade adulta.
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