Síntese
- Desde que nasce até que morre, o ser humano vive integrado no meio social. Aliás, só sobrevive porque vive em interação com os outros, num meio construído, modificado, que dá respostas às suas necessidades. Precisamos dos outros para o nosso bem-estar físico e psicológico ao longo de toda a vida. Somos decididamente dependentes: precisamos de estar com os outros, precisamos que gostem de nós, da sua aprovação, de estar integrados e ser aceites pelos grupos.
- O escritor Herman Melville afirmava:
Caracterização das relações precoces
Caracterizamos o ser humano, quando nasce, como um ser imaturo. Essa imaturidade, que se revelou um elemento decisivo no processo de desenvolvimento da espécie, torna-o dependente, durante muito tempo, dos adultos: para se alimentar, para ser protegido...para sobreviver. Esta imaturidade e as necessidades daí decorrentes implicam um tipo de relação com os progenitores distinto do dos outros animais. Em prematuro, precisa dos cuidados dispensados, nos primeiros anos de vida, pelos pais, ou outros cuidadores, para poder sobreviver física e psiquicamente.
As competências básicas do bebé
Graças ao desenvolvimento de novos métodos de estudo, técnicas de observação e registo dos comportamentos [ com recurso ao vídeo e o tratamento informático dos dados ], pode-se medir, por exemplo, o tempo que os bebés fixam o olhar em objetos, medir o ritmo e o vigor com que chupam biberões, etc. Devido às gravações vídeo das expressões faciais que se registou, o momento em que apareceram as primeiras emoções precoces, como o medo, a raiva, a alegria.
Os novos meios de investigação e os novos dados que se obtiveram motivaram um acréscimo do interesse dos psicólogos sobre as competências precoces do bebé, sendo também crescente a consciência da importância que tem o conhecimento da psicologia do recém-nascido na compreensão do desenvolvimento humano e no modo como se processa a comunicação com as figuras parentais. Abandonou-se a ideia de que o bebé era um ser passivo nos primeiros tempos de vida, assim como se constatou que, apresenta um conjunto de capacidades e competências que estimulam aqueles que o rodeiam a satisfazer as suas necessidades. Efetivamente, as observações e as experiências desenvolvidas nos últimos anos mostraram que as capacidades dos bebés, designadamente a capacidade para comunicar, são muito superiores às que, até há pouco tempo, se imaginavam.
Competências para comunicar
A comunicação entre o bebé e as figuras parentais faz-se através de trocas, de sinais que manifestam as suas necessidades e o seu estado emocional. A qualidade da relação depende da capacidade dos cuidadores responderem adequadamente aos estados emocionais do outro. Este processo foi designado por regulação mútua. Logo que nasce, o bebé é capaz de dirigir a sua atenção para estímulos do meio ambiente: distingue sons, vozes, imagens e odores. Recorre a um conjunto de estratégias comportamentais para chamar a atenção da mãe, ou de outro cuidador, no sentido de obter uma resposta para o que precisa. O choro, contacto físico, o sorriso, as expressões faciais e as vocalizações são alguns dos meios a que o bebé recorre para manifestar as suas necessidades e obter a sua satisfação. São estratégias para seduzir os adultos, impedindo que os abandonem.
O sorriso
É uma das formas de comunicado que desencadeia confiança e afeto reforçando os esforços dos adultos para satisfazer o bebé. O primeiro sorriso é indiferenciado, porque o bebé sorri a uma configuração de rosto com olhos, nariz, boca desde que apresentado de frente, mesmo sendo uma máscara. Não sorri a um rosto de perfil.
Para René Spitz, é entre as 6 e as 12 semanas que o sorriso se manifesta como
meio de comunicação intencional do bebé. Por volta dos 3 meses, é mais
duradouro, passando a rir alto no 4 mês, ao ouvir sons diversos, quando os pais
fazem qualquer coisa imprevista. A partir dos 6 meses, só sorri para as pessoas
que conhece ( sorriso social ). Por fim, o sorriso é um sinal que reforça as relações , favorecendo a sua
repetição.
O choro
O choro é o meio mais eficaz para manifestar uma necessidade ou um mal-estar. Distingue-se 4 tipos de choro:
- Choro básico da fome.-Choro de raiva.
- Choro de frustração.
- Choro de dor.
Expressões faciais
A tristeza, o medo, a alegria, a raiva, a surpresa
e vários outros sentimentos são emoções que se podem manifestar através de
expressões faciais. Psicólogos como Carroll Izard e outros colaboradores
procuraram identificar no bebé as expressões. Filmaram então, as brincadeiras
de bebés de 5,7 e 9 meses de idade com as mães em diferentes situações:
- Um estranho a aproximar-se.
- Um palhaço a sair de uma caixa.
- Uma injeção a ser-lhes dada.
As expressões faciais têm um valor comunicacional, pois transmitem uma mensagem
que tem a expectativa de uma resposta.
Vocalizações
Os bebés, desde cedo, emitam sons vocais como resposta às vocalizações dos adultos. Chama-se lalação ao tipo de emissões vocais produzidas entre os 3 aos 6 meses , que se caracterizam por cadeias de sílabas repetitivas : ta, ta, pa, pa, etc.
Estas vocalizações que têm uma grande gama de expressões sonoras, estão presentes também em crianças que nasceram surdas, o que parece mostrar que não são respostas adquiridas. Concluindo, os bebés estão dotados de um conjunto de estratégias, de competências, que lhes permitem enviar sinais para os adultos que, por sua vez, estão predispostos a responder-lhes. Este processo tem um valor adaptativo, dado que leva a que as necessidades fisiológicas e psicológicas sejam satisfeitas. Vai ter, pelo seu carácter comunicacional, repercussões nas relações futuras.
Competências básicas da mãe
A regulação mútua, que já foi referido, envolve o bebé e os progenitores numa interação em que ambos procuram responder de forma adequada. Uma interação equilibrada exige que eu a mãe interprete adequadamente os sinais emitidos pelo bebé é que responda de forma apropriada. Se o bebé obtém o que precisa, reagirá com alegria. Se não conseguir, manifesta-se com sentimento de ansiedade e frustração.
Entre o nascimento e os 18 meses - primeiro estádio de desenvolvimento psicossocial - o bebé mantém uma relação privilegiada com a mãe. Se a mãe cuida do bebé, se está disponível para responder às suas solicitações, desenvolve um sentimento de confiança, fazendo-o sentir-se seguro. Se a mãe não responder positivamente, podem desenvolver-se sentimentos de desconfiança que se manifestam por medos e receios. O mundo surge-lhe como imprevisível e ameaçador. A sensibilidade e a disponibilidade da mãe face às necessidades do bebé e o prazer mútuo nas interações que se estabelecem propiciam um sentimento interno de segurança, que é gerador de uma confiança básica que permite ao bebé encarar o mundo de forma positiva. Pelo contrário, se a mãe não responde às necessidades do seu filho de forma continuada, desencadeiam-se sentimentos de ansiedade que têm consequências negativas no desenvolvimento psíquico do bebé.
O papel da mãe , sobretudo nos primeiros anos de vida, tem sido objeto de vários estudos e interpretações, reconhecendo-se a importância da qualidade dessa relação no desenvolvimento da personalidade, da autoconfiança, das interações sociais futuras. Um dos aspetos mais importantes dessa relação é a comunicação que se estabelece entre a mãe e o bebé.
Importância das fantasias da mãe face ao bebé
A relação mãe/bebé inicia-se muito antes do nascimento, quando a mulher sabe que está grávida. Entre outros, o psicólogo Donald W. Winnicott chamou a atenção para o estado muito particular da mãe durante o período de gestação e os primeiros tempos após o nascimento do bebé. Segundo ele, a mulher afastar-se-ia do mundo exterior, orientando-se quase exclusivamente para o seu bebé, o que se refletiria numa grande sensibilidade em relação às suas necessidades.
Essa mesma relação seria construída e reforçada pelas fantasias da mãe face ao
bebé. Durante a gravidez, desencadeia-se um conjunto de suposições sobre o sexo
do bebé, com quem será parecido, como se comportará. Fazem-se projetos
relativamente à criança, que vão desde os simples passeios ao seu futuro mais
sério e longínquo. Constrói-se assim , um vínculo a um bebé imaginário que se
ajustará , após o nascimento, ao bebé real. Assim, o processo de adaptação do
recém-nascido a um novo mundo é acompanhado por um processo de adaptação dos
pais a uma nova situação. O bebé idealizado terá de dar lugar ao bebé real com
as características que lhe são próprias.
Por fim, neste processo, a mãe não está só: os futuros pais devaneiam sobre
como vai ser uma nova vida com o seu filho/ Estes discursos dirigidos ao bebé
que está na barriga, os diálogos entre os pais sobre como será a criança que
vai nascer, a partilha destes sentimentos e emoções com a família mais alargada
e outros elementos significativos constituem elementos fundamentais para a
relação a estabelecer com o bebé depois do nascimento.
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